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domingo, 6 de abril de 2014

Nanotoxicologia: melhor prevenir que remediar




     Dizem que logo após a descoberta dos materiais radioativos, no final do século 19, alguns pesquisadores costumavam transportar em seus bolsos pequenos frascos com amostras desses materiais. A franco-polonesa Marie Curie (1867-1934), uma das pioneiras da radioatividade, manipulava despreocupadamente materiais radioativos que ela aos poucos retirava de um monte com mais de uma tonelada, armazenado nos fundos do seu laboratório. Morreu vitimada por uma leucemia, provavelmente associada à exposição a esses materiais.

Nanotoxicologia: melhor prevenir que remediarGuardadas as devidas proporções, talvez estejamos passando, ou passaremos, por situação similar nessa era nanotecnológica. Quantas minúsculas e perigosas nanopartículas rondam por aí, prontas a penetrarem em nossa pele ou serem por nós ingeridas? E o que dizer do meio ambiente? Como tudo isso vai interagir com os nossos aquíferos e nossas fontes de alimentos?
     Preocupada, muita gente está; com absoluto conhecimento de causa, quase ninguém. O cenário é carregado de controvérsias. Uma que tem circulado com muita frequência nos meios de comunicação de massa e nas revistas científicas refere-se ao uso de óxidos de zinco (ZnO) e de titânio (TiO2) em protetores solares. 
    Já faz um bom tempo que esses óxidos vêm sendo usados nesses produtos. Os protetores solares são, em geral, muito eficientes na absorção da radiação ultravioleta, mas deixam aquela desagradável camada branca sobre a pele. Logo os fabricantes descobriram que, diminuindo o tamanho das partículas de óxido até o limite nanométrico, é possível obter protetores transparentes tão eficientes quanto os originais. Nada mal, não é?
    Unir a eficiência funcional aos requisitos estéticos é sem dúvida algo positivo. Mas, há pouco mais de cinco anos circulando nas prateleiras de supermercados e drogarias, esses produtos têm gerado debate público sobre seus efeitos tóxicos.
    A pergunta óbvia é: sendo tão pequenas, essas partículas não poderiam penetrar na região subcutânea e chegar à corrente sanguínea? E, em lá chegando, o que poderão causar? 
Óxido de titânio
Óxido de titânio, em microscopia eletrônica de varredura. Partículas nanométricas desse óxido vêm sendo usadas com frequência na produção de filtros solares. Há, no entanto, questionamentos sobre os riscos desse uso para a saúde e o meio ambiente. (imagem: CMDMC/ Flickr – CC BY-NC-ND 2.0)








     Que esses óxidos podem causar danos à saúde, a pesquisa científica não deixa dúvida, mas tudo indica que eles não podem vencer a barreira dermatológica e atingir o sistema linfático. Ou seja, não será por meio dos protetores solares que ZnO e TiO2 se tornarão uma ameaça, garantem fabricantes e muitos pesquisadores de renomadas instituições.
    Mas há céticos que afirmam que as pesquisas ainda não consideraram todas as variáveis do problema. Por exemplo, a incapacidade de vencer a barreira dermatológica parece ser verdadeira no caso de peles saudáveis, mas pouco ou quase nada se sabe no caso de peles com algum tipo de doença.

Dificuldades para definir e regular

    Preocupações e controvérsias mais sérias do que essas atingem outras aplicações nanotecnológicas, dando corpo a essa ciência emergente e naturalmente denominada nanotoxicologia. Seu objeto direto é a repercussão da nanociência na saúde humana, mas é inevitável que sua atuação englobe também o meio ambiente.
    É nesse contexto mais geral que pretendo ilustrar os avanços científicos e tecnológicos relatados na literatura especializada, dando continuidade a abordagens anteriores que fiz aqui, em julho de 2009 e janeiro 2012.
Comparando o que ali escrevi com o que li desde então, percebo que o cenário continua nebuloso, mas vem aumentando a consciência de que estudos nanotoxicológicos devem ser incentivados e parece ser intensa a busca por regulação de produtos nanotecnológicos.Tarefa complicada, a começar pelo fato de que ainda não se chegou a um consenso do que seja um nanomaterial.
A definição clássica de que se trata de algo que tenha pelo menos uma das dimensões inferior a 100 nanomêtros (100 nm) já não é suficiente. E esse é só o primeiro dos inúmeros obstáculos para o desenvolvimento de uma regulação consistente.

buckminsterfulerenoO buckminsterfulereno, estrutura esférica formada apenas por átomos de carbono, é considerado um tipo de nanomaterial. Uma das dificuldades por trás da regulação da nanotecnologia é a falta de consenso sobre a definição de nanomaterial. (imagem: Gisela Giardino/ Flickr – CC BY-SA 2.0)






    Quase todos esses obstáculos são representados por um outro tipo de dificuldade em analisar nanomateriais. Por exemplo, um parâmetro que começa a ser usado para classificar um nanomaterial é a razão entre área superficial e volume. Em vez de considerar simplesmente a dimensão inferior a 100 nm, diz-se que um nanomaterial deve ter razão superfície/volume superior a 60 m2/m3. Esse número corresponde justamente a uma esfera de diâmetro igual a 100 nm, mas do ponto de vista das propriedades físico-químicas faz mais sentido do que a medida do diâmetro.
    O problema é que só existe um método universalmente aceito para medir a razão superfície/volume, o método Brunauer-Emmett-Teller (BET), e ele só é válido para materiais sólidos pulverizados, sem presença de qualquer material líquido. Os métodos para materiais em suspensão ou imersos em matrizes sólidas ainda encontram-se na mais tenra infância.

Entre benefícios e riscos

     A despeito dessas dificuldades para caracterizar nanomateriais de modo aceitável para o estabelecimento de um sistema regulatório, as pesquisas avançam em outras frentes. A todo instante a literatura apresenta novos nanomateriais e prováveis aplicações na eletrônica, na medicina, na farmacologia e em inúmeros produtos que vão de cosméticos a produtos de limpeza, passando por equipamentos esportivos e outros produtos de uso pessoal.
    E, felizmente, também avançam as pesquisas relacionadas ao impacto ambiental da nanotecnologia. Nessa área, predominam os estudos sobre toxicidade dos nanotubos de carbono (251 trabalhos catalogados na Web of Science, com a palavra-chave nanotoxicologia), do ouro (95 trabalhos), do dióxido de titânio (82), dos pontos quânticos (79), da prata (70) e do óxido de zinco (54).
     Atribui-se a Paracelso (1493-1541) a frase: “Todas as substâncias são venenos, somente a dose correta diferencia o veneno do remédio”. A frase tem tudo a ver com os nanomateriais. Podem salvar e destruir vidas.
     Nanotubos de carbono (NTC) injetados em alta dose em mesotélio de roedores produziram efeitos similares aos de asbesto. Por outro lado, ainda não se sabe se a inalação de NTC é capaz de transportá-lo até essas regiões sensíveis do nosso corpo.
     Apesar de bastante benigno, TiO2, quando preparado em escala nanométrica e administrado em alta dose, tem provocado câncer de pulmão em ratos. 
    A questão é: qual a dose limite, abaixo da qual esse material não oferece risco para a saúde humana? Além dessa importante questão referente à dose, há que se preocupar com outras propriedades físico-químicas que surgem apenas ou são aumentadas nos nanomateriais.
    Por exemplo, há estudos mostrando que, sob a ação da luz solar, nanopartículas de TiO2 liberam hidroxila, OH, capaz de quebrar fitas de DNA. No entanto, outras pesquisas mostram que essas nanopartículas usadas em filtros solares não conseguem atravessar a barreira epidérmica, sendo, portanto, inofensivas.
    Mas, após o uso, estas são liberadas no meio ambiente, e o que acontece então? Ainda não temos resultados científicos suficientes para inquestionavelmente responder a essa questão.
     É sempre a mesma coisa, como disse Billy Blanco no seu clássico Canto Chorado, “o que dá pra rir, dá pra chorar”. Ou, para rir mais do que chorar, é bom seguir o conselho dos toxicologistas Bengt Fadeel e Alfonso E. Garcia-Bennett: melhor prevenir do que remediar.


Conteúdo Complementar
Artigo : Nanoparticles, nanotechnology and pulmonary nanotoxicology



PLANTAS TRANSGÊNICAS NA PRODUÇÃO DE FÁRMACOS

Slide de Plantas Transgênicas na Produção de Fármacos



Vídeo de DNA Recombinante




Artigo Complementar


Transgênicos na Produção de Fármacos


     O uso milenar de plantas para aliviar doenças ganha outras formas sob o domínio da biotecnologia. Dezenas de experimentos em todo o mundo, em empresas ou instituições acadêmicas, utilizam técnicas de inserção de genes em genomas de plantas que possam codificar enzimas de interesse farmacológico. Assim é possível que o cultivo de soja, milho e batata ou mesmo plantas ornamentais possa no futuro ser usado em larga escala, em versões transgênicas, para a produção de medicamentos. Um exemplo desses experimentos que acontecem no Brasil, na unidade de Recursos Genéticos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Brasília, é o desenvolvimento de uma variedade de soja com um viricida ou microbicida, capaz de prevenir a contaminação pelo vírus causador da Aids. Com a ajuda da engenharia genética, essa leguminosa está produzindo sementes, em uma estufa na capital federal, com a enzima cianovirina-N que já teve comprovada sua eficácia contra o vírus em testes laboratoriais em estudos pré-clínicos.

    A proteína sintetizada na cenoura é similar à produzida pelo próprio organismo humano. No caso da cianovirina a história é diferente. Ela foi isolada na década de 1990 de uma cianobactéria, que leva o nome científico de Nostoc ellipsosporum, em pesquisas do Instituto Nacional de Câncer (NCI, na sigla em inglês) e dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos. As cianobactérias são bactérias azuis e chamadas erroneamente de algas azuis. Pesquisadores dos NIH e da Universidade de Londres, na Inglaterra, idealizaram um gel com a cianovirina para ser aplicado antes das relações sexuais. O princípio ativo inibe a replicação do HIV ao se ligar aos oligossacarídeos (açúcares) do vírus. “A cionovirina-N está no estágio de desenvolvimento pré-clínico, portanto ainda não foi testada em seres humanos”, diz o pesquisador Barry O’Keefe, vice-chefe de biologia molecular do laboratório de alvos moleculares do NCI. Ele liderou um estudo publicado em 2003 que demonstrou a atividade da proteína também contra alguns vírus da gripe (influenza A e B) e participa dos estudos para o desenvolvimento da cianovirina. “Falta um meio comercialmente viável, de baixo custo, de produção em larga escala da cianovirina-N, e as plantas são um bom caminho para esse fim”, diz O’Keefe






     Esse tipo de experimento ganhou força em maio de 2012, quando a Food and Drug Administration (FDA), a agência federal norte-americana de regulação de medicamentos e alimentos, aprovou para uso comercial o primeiro fármaco produzido com engenharia genética em células de plantas para seres humanos. O princípio ativo é a proteína taliglucerase alfa, produzida em células de cenoura transgênica para tratamento da doença de Gaucher, uma enfermidade genética e rara provocada pela  falta no organismo da glucocerebrosidase, uma enzima atuante no processamento de glicocerebrosídeos, um tipo de  gordura celular. O paciente tem anemia e aumento do baço e do fígado. O medicamento desenvolvido e produzido pela empresa israelense Protalix, e distribuído em parceria com a  norte-americana Pfizer, foi também aprovado em Israel e no Brasil, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em março deste ano, com o nome de Uplyso. O tratamento até agora era feito com outro fármaco em que a proteína é produzida em linhagens de células modificadas dehamsters, num processo biotecnológico que está mais sujeito a contaminações.

“Recebemos 360 g de soja liofilizada transgênica e já foram feitos os testes que mostram a presença dessa proteína, o fator IX. Agora, como assumi o cargo de professora do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, esses estudos estão sob a coordenação dos professores Dimas Tadeu Covas e Lewis Joel Greene, do Hemocentro de Ribeirão Preto”, diz a bióloga Aparecida Maria Fontes, que era pesquisadora do Hemocentro e parceira na pesquisa. “A produção de fator IX em planta é muito importante porque, além de não se utilizar o material dos bancos de sangue que é escasso, cria-se uma alternativa com outro veículo de produção. Até o momento, a única molécula do fator IX produzida com técnicas biotecnológicas é elaborada em células de hamsters”, diz Aparecida.


     Obter a proteína em grande quantidade foi a dificuldade inicial dos pesquisadores norte-americanos logo depois dos estudos laboratoriais que indicaram as atividades contra alguns tipos de vírus. Os NIH tentaram a produção via DNA recombinante, em que o gene codificador da proteína é inserido no genoma de outra bactéria mais fácil de cultivar, a Escherichia coli, para a posterior extração da substância. Mas a produção foi baixa e se mostrou economicamente inviável. A solução encontrada pelo pessoal dos NIH, liderado por O’Keefe, foi procurar o professor Elíbio Rech, da Embrapa, coordenador do grupo brasileiro que havia depositado uma patente no exterior, de uma técnica para inserção de genes em soja, e tinha experiência no desenvolvimento de culturas transgênicas. “Os norte-americanos nos procuraram em 2007 e fizemos a parceria. Eles nos repassaram a sequencia genética codificadora do gene que inserimos no genoma de uma variedade de soja da Embrapa, a 10-16. E deu certo, já temos as sementes das plantas engenheiradas por nós produzindo a cianovirina”, diz Rech. Eles isolaram o princípio ativo da soja. O ensaio viral para a confirmação da ação da cianovirina produzida pela Embrapa foi feito pelo professor Amilcar Tanuri, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e também no laboratório de O’Keefe, nos Estados Unidos. E o resultado foi positivo.

     O desafio atual é melhorar o processo de extração da proteína, purificando quantidades maiores da cianovirina das sementes de soja. “Nossos resultados apontaram a presença de 10 gramas (g) da proteína por quilo de sementes frescas. Sabemos que não podemos tirar os 100% de fármaco do grão da leguminosa porque é normal que ocorram perdas no processo de purificação. Até agora já atingimos os 20%, ou 2 g, e nossa meta é atingir 50%”, diz Rech. O processo de purificação de proteína é trabalhoso, exige várias fases. No caso da Embrapa, a purificação está sendo realizada com resinas. Conforme o óleo de soja passa por um processo semelhante a uma filtração em que as resinas fazem o papel de filtros, as proteínas contidas na soja vão se dissolvendo, inclusive a cianovirina.

     “Nossa intenção é produzir uma quantidade suficiente da proteína para testar o principio ativo em macacas nos Estados Unidos, e posteriormente em seres humanos”, explica Rech. O propósito do trabalho dos NIH, da Universidade de Londres e do Conselho para a Pesquisa Científica e Industrial (Csir Biosciences) da África do Sul, que são grupos que participam da pesquisa, é levar o gel para o continente africano, onde a transmissão de Aids ainda é grande. A produção da cianovirina também está sendo testada em plantas de tabaco na Inglaterra, na Universidade de Londres, e nos Estados Unidos. “No tabaco, o medicamento não está apenas nas sementes, mas se expressa na planta toda. Na África, sob a liderança da pesquisadora Rachel Chikwamba, do Csir, os experimentos também seguem o caminho de produzir a cianovirina em soja e em tabaco, mas ainda não obtiveram sucesso”, diz Rech

     Outra conquista da Embrapa em Brasília foi o desenvolvimento de algumas linhagens de soja transgênica que produzem em suas células o fator IX de coagulação, um componente existente no sangue humano cuja falta é uma das causas da hemofilia, doença genética em que a pessoa sofre problemas na cicatrização e na contenção de hemorragias. Ele é produzido atualmente de plasma sanguíneo, a partir do sangue doado nos hospitais, ou em cultura de células de camundongos por meio da inserção no genoma do roedor do gene que codifica a proteína do fator IX. “Há um gargalo também no desenvolvimento de sistemas de purificação mais eficientes e produtivos”, diz Rech. “Terminamos essa soja com fator IX no ano passado depois de cinco anos, testamos a molécula presente nas sementes e agora repassamos o material para a Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto [da Universidade de São Paulo (USP)], parceira do projeto, para a sequência da fase de purificação da molécula.”
Em todas as pesquisas e mesmo em futuras plantações de soja transgênica, que vão produzir medicamentos, são levadas em conta várias iniciativas de biossegurança. “As plantas são produzidas sob contenção, em casas de vegetação [estufas] totalmente teladas. Isso acontece para evitar situações que são até muito difíceis de acontecer como, por exemplo, que um pássaro pegue uma semente e leve para outro lugar onde a soja germine e alguém possa comer as sementes. Não é veneno, mas devemos lidar com essas plantas como fonte de medicamento, de forma diferente da soja usada na alimentação. As plantações futuras também deverão ser cercadas, de modo a que nenhum estranho tenha acesso”, diz Rech.
Entre as vantagens da geração de fármacos em plantas estão os custos mais baixos, com produção de larga escala e também com a segurança se comparada com células humanas, fungos, bactérias e animais. “Também é mais fácil de manipular o produto agrícola. A vantagem da soja ou de outro vegetal é que podemos colher e estocar”, diz Rech. Em um artigo publicado na revista Nature em 2012 (10 de maio) na seção News in Focus, que comentou a aprovação para uso comercial do medicamento para doença de Gaucher produzido com cenouras, o autor, Amy Maxmen, diz que o Elelyso, ou Uplyso, remédio aprovado pela FDA, pode ser vendido por 75% do valor do medicamento tradicional, o Cerezyme, produzido com células de hamsters. O tratamento tradicional pode custar até US$ 300 mil por ano por paciente. Maxmen informa que o mercado global de fármacos de produtos biotecnológicos alcançou a marca de US$ 149 bilhões em 2010. “O futuro dos métodos de produção à base de plantas é muito promissor para os biofarmacêuticos. É um momento muito emocionante para quem trabalha com esse tipo de pesquisa”, diz O’Keefe à Pesquisa FAPESP. “Elibio Rech e seus colegas na Embrapa fazem parte de uma indústria crescente de grande importância para o futuro.”
Bibliografia
O’Keefe, B.R. et al. Potent Anti-Influenza Activity of Cyanovirin-N and Interactions with Viral Hemagglutinin. Antimicrobial Agents and Chemotherapy. v. 47, n. 8, p. 2.518-25. ago. 2003.


Rech, E.L. et al. High-efficiency transformation by biolistics of soybean, common bean and cotton transgenic plants. Nature Protocols. v.3, n. 3, p. 410-18. fev. 2008.


Drogas e Miastenia Gravis. Drogas e Porfirias. Síndrome Neuroléptica Maligna e Hipertermia Maligna

Resumo


      Um grande número de drogas tem implicado dano muscular ou disfunção da transmissão neuromuscular. Apresenta-se uma revisão dos aspectos clínicos e dos variados mecanismos patofisiológicos, que envolvem tanto efeitos diretos quanto indiretos.

     Os autores discutem ainda três condições clínicas farmacogenéticas que dependem basicamente de drogas desencadeantes para se manifestarem: as porfirias, a síndrome neuroléptica maligna e a hipertermia maligna.



Abaixo Artigo Completo


Drogas e Sistema Nervoso Periférico - Miopatias Tóxicas

Drogas e Miastenia Gravis. Drogas e Porfirias. Síndrome Neuroléptica Maligna e Hipertermia Maligna


As miopatias tóxicas podem, ainda, serem classificados em grupos variados 

relacionados com o agente causador e mecanismo de ação. Destacam-se:

1) Miopatia por corticosteróides: fraqueza de início insidiosa afetando a musculatura  proximal (quadríceps e cintura pélvica). A CK sérica e aldolase são normais ou elevadas e a  eletromiografia mostra achados miopáticos (potenciais polifásicos de baixa amplitude e curta  duração) sem presença de sinais de atividade espontânea em geral. São mais comuns com o uso de esteróides fluorados que agem inibindo a transcrição do mRNA e a síntese de proteínas musculares, além de aumentar a degradação das proteínas. São reversíveis com a suspensão  da droga. 



2) Miopatia por drogas redutoras de colesterol (estatinas e fibratos): causam  miotoxicidade por inibir a ação da enzima chave na produção do colesterol, a 3-hidroxi-3- metilglutaril coenzima A (HMG-CoA) redutase. Pode causar elevação assintomática da CK  sérica, cãibras, mialgia, rabdomiólise aguda e até miopatia inflamatória em alguns casos. Os  sintomas podem cessar rapidamente após a retirada da droga ou persistir por semanas e até  meses.




3) Miopatia alcoólica. A ingestão excessiva de álcool pode resultar em miopatia necrotizante aguda caracterizada por início rápido mialgia, cãibras, edema e fraqueza muscular generalizada ou focal. O alcoolismo crônico também pode induzir miopatia hipocalêmica, especialmente se associada com hipomagnesemia. A força melhora com reposição de potássio e magnésio e supressão do consumo de álcool. 






Podem ser classificada ainda como:




quinta-feira, 3 de abril de 2014

A Toranja e sua ingestão com medicamentos - Parte 2

O consumo de toranja e a ingestão de medicamentos 


Alguns fármacos em interação com este fruto podem provocar reações nefastas no organismo


ADRAC – AUS – Interações com suco de grapefruit (pomelo).
      Relatório do comitê de reações adversas lembrando que o suco de grapefruit (pomelo) interage com várias medicamentos em função da inibição local de uma das enzimas do sistema citocromo P450 (CYP3A4) e da P-glicoproteina em enterócitos, na parede intestinal. Ela não afeta o sistema citocromo P450 hepático. Interação tem sido demonstrada (aumento de disponibilidade da droga) com bloqueadores dos canais de cálcio (felodipina, amlodipina e nifedipina), estatinas (simvastatina e atorvastatina), benzodiazepínicos (midazolam e triazolam), ciclosporina, saquinavir, e cisaprida. O comitê adverte que essas interações correm tanto com o suco como com a fruta inteira, podendo variar em função de marcas ou concentrações do suco, e que se deve evitar tomar o suco ou a fruta até pelo menos 2hs da tomada de qualquer medicação. Com exceção das laranjas azedas Sevilla, aparentemente não há interação com outras frutas cítricas.
    Os sistemas de enzimas relacionados acima são os responsáveis por metabolizar / eliminar tudo o que entra no nosso organismo – seja medicação, chá ou mesmo alimentos, especialmente os mais complexos.

Grapefruit (Toranja) interage com 85 remédios


Grapefruit interage com 85 remédios comuns provocando efeitos colaterais graves e coloca seu consumo em xeque

Depois de relatarem sérios efeitos colaterais na mistura do grapefruit com medicamentos, pesquisadores do Lawson Health Research Institute, em Londres, trazem agora um dado alarmante: subiu para 85 o número de remédios afetados de alguma forma por essa fruta. "Só entre 2008 e 2012, passaram de 17 para 43 aqueles com grande potencial de interagir com o grapefruit", diz David Bailey, farmacologista clínico e um dos autores do estudo. "Isso significa seis interações a mais por ano, resultado da inclusão de novas fórmulas químicas na composição dos fármacos", explica. O pior é que muitos deles são de uso frequente e essenciais para o tratamento de diversas doenças. Em comum, eles têm três características: são tomados via oral, têm de baixa a intermediária biodisponibilidade — fração do remédio absorvida pela circulação sanguínea — e são metabolizados por uma enzima chamada CYP3A4. A questão é: o grapefruit possui uma substância, de nome furanocumarina, que é inibidora justamente dessa enzima.

Em outras palavras, cada droga tem um grau de absorção no corpo, uma vez que parte dela é destruída no fígado antes de seguir em frente pela circulação sanguínea. Ao prescrever uma dose, o médico conta com essa porcentagem que não será aproveitada. Se a enzima responsável pela sua quebra está inativa — efeito causado pelo consumo do nosso protagonista, por exemplo —, o medicamento ficará mais tempo no organismo em sua forma original. A consequência é uma quantidade muito maior do que o necessário, podendo gerar uma overdose. Aí moram vários perigos.

Talvez a falta de afinidade de nosso paladar com esse alimento azedo explique também certa confusão quando se trata de saber como ele é chamado por aqui, já que não faz muito sucesso entre os brasileiros. Seria toranja? Não, não é a mesma coisa, vamos logo esclarecendo. "O grapefruit corresponde ao nosso pomelo, cuja espécie botânica é Citrus paradisi", ensina Walter dos Santos Soares Filho, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). "A toranja, por sua vez, é da família Citrus maxima e tem em ‘pummelo’ sua tradução para o inglês", ele complementa. Mas o importante mesmo é saber que, segundo a pesquisa do Lawson Health, são três as frutas capazes de causar estragos quando se está tomando algum remédio: a toranja, o pomelo e a laranja-azeda. "Todas elas contêm a furanocumarina e interagem igualmente com os medicamentos", diz, categórico, David Bailey. Porém, são diferentes no que se refere às características físicas, ao sabor e aos nutrientes "Neles, a furanocumarina está presente em quantidades bem menores e, para que houvesse interferência significativa no metabolismo de drogas, o consumo teria que ser absurdamente grande", tranquiliza Sergio Surugi de Siqueira, farmacêutico bioquímico e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

Perdão à Vista? 

Se a presença da substância-problema depõe contra o grapefruit, não custa lembrar que ele é uma excelente fonte de nutrientes importantes. "Os principais benefícios estão associados à vitamina C e aos flavonoides", diz Solange Guidolin Canniatti Brazaca, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, no interior paulista.

Devido ao sabor amargo, ele é mais apreciado em forma de suco, que deve ser ingerido assim que preparado. "Tanto no natural como no industrializado, a vitamina C oxida rapidamente no contato com elementos externos, o que pode alterar o sabor e absorção de nutrientes", explica Carlos Canavez Basualdo, nutricionista clínico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Por fim, uma notícia que poderá absolver o cítrico polêmico: "Há um trabalho de melhoramento genético em andamento na Universidade da Flórida para diminuir — ou até cessar — a furanocumarina nas novas espécies", conta Francisco de Assis Alves Mourão Filho, professor do Departamentode Produção Vegetal da Esalq. É esperar para cair em tentação sem medo.

* valor referente à quantidade que devemos consumir diariamente


De olho no relógio

   No estudo inglês, um copo de 200ml de suco de grapefruit apresentou diferentes efeitos na mistura com a felodipina - droga usada no controle de hipertensão - quando ingerido em variados intervalos de tempo.
4 horas antes  - detectaram-se 100% de interação

10 horas antes

A chance de interação caiu para 50%

24 horas antes

A mistura gerou 25% do seu efeito máximo

Misturar remédios e toranja pode causar danos à saúde, diz estudo


   Segundo o autor, é possível que outras frutas cítricas, como a laranja, produzam efeitos similares, mas há menos estudos a respeito. 

Número de medicamentos que interferem com fruta subiu nos últimos anos. Toranja também é conhecida como 'grapefruit', seu nome em inglês.



        Uma pesquisa canadense indica que subiu o número de medicamentos que podem fazer mal à saúde quando consumidos misturados com a toranja -- também conhecida como "grapefruit", seu nome em inglês.

   Em artigo publicado na revista da Associação Médica Canadense, David Bailey, um cientista do Instituto de Pesquisa em Saúde Lawson, de London, na província de Ontário, disse que mais de 85 medicamentos, muitos deles muito prescritos para transtornos médicos comuns, interagem com essa fruta.
   A fruta bloqueia uma enzima natural do corpo que quebra as substâncias ingeridas nos medicamentos. Consequentemente, quando os remédios entram na corrente sanguínea, eles estão mais potentes, e isso pode levar à overdose.
   Entre os fármacos que interagem com a toranja há anticancerígenos, remédios para o coração, analgésicos e remédios para o tratamento da esquizofrenia. Todos são administrados por via oral.
   Não é preciso comer grandes quantidades da fruta para que esta associação faça efeito. Beber um copo de suco de grapefruit com a medicação pode causar efeitos colaterais graves, como hemorragia gastrointestinal, insuficiência renal, problemas respiratórios e até morte súbita.
   Bailey detectou o vínculo tóxico pela primeira vez há 20 anos. Mas o número de medicamentos que potencialmente podem interagir com a toranja e causar graves efeitos para a saúde saltou de 17 a 43 nos últimos quatro anos, disse Bailey.
   "Quão problemáticas são estas interações? A menos que os profissionais de saúde estejam conscientes de que o evento adverso que observam pode se dever à recente incorporação da toranja na dieta do paciente, é muito pouco provável que este assunto seja investigado", disse Bailey.